A maioria dos estudantes, na hora de escolher um curso superior e definir uma futura carreira, recorre a atividades de vocação profissional. Este é o principal critério utilizado por escolas para direcionar alunos que encerram o Ensino Médio. Muitas instituições organizam ricos programas com fins de contemplar aspectos amplos das habilidades e gostos dos alunos. Uma coisa é certa, quando jovens escolhem a profissão tendo como base interesses pessoais e habilidades que gostam em si mesmos, mantêm-se otimistas durante a faculdade e no difícil processo de inserção no mercado. Por outro lado, a falta de “vocacionamento” é um dos principais motivos que levam estudantes a abandonar os cursos superiores.
Nesta fase da vida, o aluno se vê diante de uma infinidade de profissões, cursos, áreas de estudo. Parece complexo decidir, ainda tão jovem, rumos para toda uma vida. É importante que na hora em que sejam chamados a refletir sobre o preparo que necessitarão para se inserir no mercado de trabalho, encontrem apoio, acompanhamento e atividades fundamentadas que diminuam ansiedades e visem a despertar no aluno uma sólida consciência sobre seu futuro. Para que este processo tenha sucesso é necessário o envolvimento do próprio estudante, dos professores habilitados para vocacionamento e dos pais.
Confira algumas dicas.
Para o aluno:
1. Observe suas características individuais: O que você gosta de fazer rotineiramente? Que assuntos e áreas mais te interessam na vida escolar? Quais são seus pontos fortes e fracos? Reflita nestas perguntas e passe a prestar atenção em seus hábitos e rotinas estudantis. Ser feliz em uma profissão está intimamente ligado ao fato de se ter talento para tal e prazer nas atividades que ela contempla. Portanto, o primeiro passo para fazer uma escolha é conhecer a si mesmo e seus interesses.
2. Busque atividades prazerosas: Muitos são os caminhos para se chegar a uma escolha “final” de profissão. Mas é importante voltar-se para carreiras que concentram práticas que fluem naturalmente e que encerrem processos que você já gosta de fazer na vida. Uma carreira, no decorrer da vida, pode se estender por muitos caminhos inesperados e as dificuldades sempre aparecerão. Essencial é que seu trabalho não se torne uma fonte constante de desprazer. Portanto, analise com sensatez as profissões e seus mercados, e opte pela carreira que tem potencial de desenvolvimento e que, ao mesmo tempo, se realize de atividades prazerosas.
3. Tenha consciência do que não deseja fazer: Parte importante da escolha profissional é entender que, embora algumas profissões pareçam “glamourosas” ou muito rentáveis, podem não combinar com suas habilidades e interesses. Tenha consciência e honestidade para definir aquilo que você não deseja fazer pelo resto da vida, ainda que o mercado seja financeiramente tentador. Arrependimentos são coisas da vida. Mas ao descobrir aquilo de que você realmente gosta, poderá evitar decisões que trarão infelicidades futuras.
Para professores
1. Conheça bem as potencialidades do aluno: Se organize para passar um tempo de qualidade com o grupo de alunos que está finalizando o Ensino Médio. É importante estabelecer uma relação de confiança e conhecimento. Assim, você estará apto para aconselhar, para ser ouvido e para opinar a respeito das reflexões dos alunos. Conhecer suas potencialidades vai ajudá-lo a direcionar os gostos pessoais para conjuntos específicos de atividades que podem ser encontradas em variadas profissões.
2. Testes, grupos focais e aconselhamento particular: Sistematize testes que sejam divertidos e leves. Escrever sobre interesses, desenhar cenas, responder questionários interessantes são ótimas opções para descobrir carreiras possíveis. Agrupe alunos que se interessam pelas mesmas coisas e organize passeios temáticos a lugares em que poderão observar determinadas profissões. Organize atividades específicas para estes grupos e conduza conversas e debates com eles em momentos diversos. Preocupe-se, também, em atender individualmente ao aluno. Muitas vezes ele terá questões e inseguranças que não gostaria de expressar na frente dos colegas.
3. Faça seminários sobre tendências e mercado: Uma boa ideia é programar séries de palestras e seminários que tratem de variadas profissões. Apresente as atividades, a rotina e as possibilidades de mercado de diferentes carreiras. Traga profissionais habilitados para falar de suas práticas e vivências. É importante que o aluno consiga observar as necessidades de mercado para cruzá-las com seus interesses pessoais e então refletir sobre como pode contribuir nestas realidades. Isto também o ajudará a manter expectativas reais sobre o futuro. O mercado de trabalho está em constante transformação e é preciso entender se existe espaço e demanda para determinadas atividades. Algumas profissões estão em reinvenção e pode acontecer de, sequer, existirem no futuro. O aluno precisa ser conscientizado disto.
Para os pais
1. Mantenha diálogos honestos sobre o futuro: Na rotina diária, preocupe-se em falar sobre os desejos e aspirações de seu filho quanto a uma carreira. Importe-se em conhecer suas habilidades e gostos. Acompanhe seu desenvolvimento escolar para ter uma visão equilibrada sobre aquilo que realmente o fará feliz. Seja honesto quanto às possibilidades das profissões que ele demonstra interesse. Conte sua própria experiência na escolha de uma carreira e aponte dificuldades que enfrentou no processo e alegrias também. Fale de sua vida profissional e os desafios que um curso superior apresenta.
2. Apresente opções profissionais “in loco”: Sempre que possível, apresente seu filho a atividades profissionais em “real time”. Convide-o para visitar algum espaço onde atuam profissionais habilitados naquilo que ele demonstrou interesse. Peça que seus amigos conversem com ele a respeito de seus trabalhos e os desafios de suas carreiras. Se houver alguma oportunidade, permita que ele vivencie um dia de trabalho em alguma destas realidades profissionais. Isto pode ser essencial para uma escolha sensata.
3. Apoie as escolhas sem julgamento: Assim que seu filho demonstrar fortes inclinações em direção a uma profissão ou área específica, não faça julgamentos nem levante obstáculos e impedimentos. Se existem questões que precisam ser pensadas mais racionalmente, em relação à escolha feita, converse com honestidade e paciência. Mostre seus pontos de discordância sem um tom de desaprovação. O choque direto, o conflito, podem produzir escolhas impulsivas e mal pensadas. Se seu filho persistir na eleição, lembre-se: cada um deve ter liberdade para realizar aquilo que lhe desperta interesse e em que julga poder contribuir coletivamente. Demonstre seu respeito. Seu filho irá valorizar sua atuação e estará muito mais propenso a ouvir seus conselhos.
Descobrir uma vocação não precisa ser um fardo pesado. Muitas vezes esta escolha flui a partir de conversas, em relações honestas de reflexão e aconselhamento, na troca de experiências com pessoas diversas. O importante é preocupar-se – enquanto indivíduo, como escola e como família – em construir uma base fundamentada de pressupostos que levarão a uma escolha sensata, leve e capaz de produzir muitas alegrias no futuro.